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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cerol em pipa leva jovens à delegacia aqui em Campo Grande

Nossos repórteres mostram a cidade onde soltar pipa com cerol virou caso de polícia. Operações frequentes reprimem o que muitos consideram uma brincadeira, mas que pode provocar ferimentos graves e até matar.

Policiais percorrem bairros da periferia de olho no céu. Em menos de quatro horas são dez flagrantes. Os jovens confirmam o uso do cerol. “Que tipo de vidro você usou ai? O que é isso?”, pergunta o policial. “Garrafão”, diz o jovem.

Em Campo Grande (MS), a delegada Maria de Lourdes Sousa Cano dá uma bronca nos meninos. “Se isso passar no pescoço de alguém, matou. Por que você solta então?”, alerta a delegada.

Ações desse tipo da Delegacia de Atendimento a Infância e Juventude do estado começaram depois de uma série de casos graves, como a morte do pedreiro Valdir Cavalcanti em março do ano passado. Ele tinha duas filhas.

“Ele faleceu num ato criminoso. Uma linha de cerol atravessou o caminho dele num momento que ele ia buscar as filhas dele para passear”, contou Edinilson Cavalcanti, irmão de Valdir. “A gente ia numa lanchonete comer”, lembra Valéria Cavalcanti, filha de Valdir.

Agora na capital de Mato Grosso do Sul, menor flagrado soltando pipa com cerol vai para a delegacia. Os reincidentes podem até ser levados para centros de recuperação para jovens infratores. Um adolescente se desespera.

O juiz da Vara da Infância e da Juventude de Campo Grande, Danilo Burin, apoia a ação da polícia. Para ele, é uma espécie de castigo - uma punição educativa - principalmente para os pais.

“Muitas vezes eles veem os filhos prepararem o cerol e deixam assim mesmo. A obrigação do pai é a vigilância. Então, ele deveria fazer isso e não está fazendo”, afirma o juiz Danilo Burin.

Depois que teve início a operação de combate ao cerol, não houve mais mortes em Campo Grande. Mesmo assim, em todas as rondas, a polícia encontra as linhas cortantes. Imagens gravadas com uma câmera escondida em m conjunto habitacional de Campo Grande mostram que o cerol é feito no quintal das casas.

Dois jovens, aparentando 14 e 15 anos, quebram uma lâmpada fluorescente. Depois, um dos adolescentes passa a mistura de cola e vidro na linha da pipa. A equipe de reportagem do Fantástico levou amostras da linha cortante para o laboratório.

“São como se fossem microfacas. Você tem um elemento que é cortante e ao mesmo tempo flexível, uma combinação mortal”, afirma o professor de mecatrônica Marco Naka.

Para tentar inibir essa brincadeira perigosa, vários estados criaram leis próprias. Além de Mato Grosso do Sul, é proibido soltar pipa com linha cortante em Rondônia, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo. A punição é pagamento de multa, que varia de R$ 79 a R$ 1,9 mil. Já no Paraná e no Rio de Janeiro, é proibido fabricar ou vender cerol. A multa chega a R$ 1 mil.

Na última sexta-feira (23), na Zona Norte do Rio de Janeiro, a equipe de reportagem do Fantástico flagrou crianças e muitos adultos usando linhas cortantes. “Geralmente são compradas em lojas”, diz um rapaz. “A gente compra a linha pronta. Inclusive até enrolado. A graça, o divertimento, é você cortar a pipa do próximo”.

Descobrimos ainda que a maioria usa uma espécie de supercerol. “Essa aqui é a linha chilena. É bem resistente e corta bastante”, aponta o jovem.

No sábado (24), em Osasco, na Grande São Paulo, fomos a um ponto onde soltadores de pipa se encontram. Bem em frente, fica uma loja que vende a chamada linha chilena. Segundo a polícia, já houve apreensões da chamada linha chilena com cerol feito de óxido de alumínio e pó de mármore, materiais que tornam as linhas ainda mais cortantes.

Em todo o Brasil, quem tem mais de 18 anos e solta pipa com cerol pode responder por um crime: expor a vida das pessoas a perigo. A pena vai de três meses a um ano de cadeia. A estudante Jussara Coutinho, 29 anos, diz ter sobrevivido por sorte. “O laudo médico falou que cortou uma jugular, a traqueia e encostou nas cordas vocais”, disse.

Hoje, três anos depois de ter sido atingida pelo cerol, Jussara ainda tem dificuldades para respirar. “O único meio é a conscientização das pessoas, pai e mãe: não deixe seus filhos soltando pipas com cerol nas ruas”, orienta a delegada Maria de Lourdes Sousa Cano.

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