Crianças e adolescentes aproveitam o período de férias escolares para
colorir o céu de Sorocaba com suas pipas. O problema é que muitas delas
estão presas em linhas chilena ou contendo cerol. É aí que a brincadeira
que deveria ser inocente pode se tornar fatal. “Meu filho entrou em
casa com as mãos no pescoço chorando e dizendo ‘mamãe, eu vou morrer’.
Foi desesperador”, lembra Roseli Miranda Costa.
Seu filho, Matheus
Henrique Costa, 6 anos, foi atingido por uma linha contendo cerol em 26
de julho do ano passado, próximo a sua casa, no Jardim Maria Eugênia,
zona norte.
O garoto – que não costuma sair de casa – acompanhou o
irmão Wellington Christian Costa, 15, até uma viela. Enquanto
Wellington soltava pipa com linha pura, Matheus permaneceu ao seu lado.
“Um dos meninos usava cerol e a linha dele enroscou no pescoço do meu
menino”, conta Roseli, dizendo ainda que levou o menino ao posto de
saúde, onde ele foi medicado e liberado.
Ainda receoso com o
incidente, Matheus declara que não teve medo, mas ficou assustado com a
dor que o corte lhe causou. “Não saiu sangue. Apesar disso, ainda gosto
de pipas.”
Para a mãe, o trauma daquele momento jamais irá sair
da memória. “Só a ideia da morte de um filho traumatiza. Naquele dia
fiquei sem comer e mal dormi”, afirma Roseli. “O que passei por causa de
uma linha de pipa não desejo para ninguém”, complementa.
Prevenção/
Roseli decidiu usar o acidente como exemplo, levando Matheus ao centro
esportivo do bairro, durante uma palestra promovida pela Guarda Civil
Municipal. “Espero que as pessoas se conscientizem, pois muitas vidas se
perdem desta maneira”, destaca.
O GCM Fabiano Pedroso de Proença
concorda com Roseli. “O maior bem que temos é a vida”, diz. Junto com o
guarda Gerson Carlino Júnior, ele ministra palestras educativas em
vários pontos da cidade, com o tema “Cerol não! Empine essa ideia”.
A
dupla, que tem experiência em teatro e comunicação com diversos
públicos, costuma mostrar o tipo de dano que linhas cortantes podem
causar. “A linha chilena é totalmente industrializada e corta dez vezes
mais que o cerol”, explica o GCM Gerson.
Durante a palestra,
muitas crianças contam casos e se mostram surpresas com a constatação de
que uma simples linha pode matar. “Alguns pais fazem cerol para o filho
usar. O importante é que com as palestras poucos voltam a utilizar a
linha cortante. É uma vitória”, acrescenta o GCM Fabiano.
Maiores vítimas/
De acordo com a Abram (Associação Brasileira de Motociclistas), os
motociclistas são as principais vítimas das linhas cortantes. “Estimamos
que ocorra no Brasil mais de 5 mil acidentes envolvendo pipas
anualmente”, revela Lucas Pimentel, fundador da instituição que também
conscientiza o motociclista sobre os perigos da linha de pipa.“Do total
de acidentes, ao menos cem são gravíssimos e deixam algum tipo de
sequela. Por isso também trabalhamos para conscientizar a população a
respeitar a vida”, conclui.
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